O processo de desenvolvimento da linguagem nos bebês é uma das primeiras manifestações da subjetividade da criança. Ela se estabelece de forma gradual, sendo possível observar como cada etapa vai se consolidando nas habilidades verbais da criança. Ela já começa meses antes do bebê falar sua primeira palavra, um período denominado fase pré-linguística.
Fase pré-linguística
Do nascimento ao primeiro mês, o som mais comum que um bebê faz é o choro. Esse repertório de sons se amplia em cerca de 1 ou 2 meses com a adição de algumas risadas e o som repetitivo de vogais, como “aaaaaaa”. Os sons de consoantes aparecem apenas em torno dos 6 ou 7 meses, quando pela primeira vez o bebê tem o controle muscular necessário para combinar o som de uma consoante com a de uma vogal. Dos 6 meses em diante, há o balbucio, que envolve cadeias repetitivas das mesmas sílabas, como “dadadada” ou “nananana”. O balbucio é uma parte importante da preparação para a linguagem falada.
Os desenvolvimentistas observaram que o balbucio nos bebês gradualmente adquire alguns dos padrões de entonação da língua que eles estão ouvindo.
A partir dos 9 ou 10 meses o repertório de sons dos bebês gradualmente começa a mudar para um conjunto de sons aos quais eles estão escutando, com o desaparecimento de sons não ouvidos, novamente influenciados pela língua ouvida. Próximo ao final do primeiro ano, o bebê adquire também uma linguagem gestual. Apontar é o gesto mais comum entre os bebês, e costumam aparecer combinados ao balbucio. Essa linguagem receptiva possibilita o bebê a adquirir um repertório de significados, e é em algum ponto no meio do balbucio que as primeiras palavras aparecem, normalmente em torno dos 12 ou 13 meses.
Uma vez que tenha aprendido as primeiras palavras, o bebê inicia o trabalho de identificar as ligações específicas entre palavras e objetos ou ações que elas representam
As primeiras palavras
As palavras são definidas como um conjunto de sons usados para se referir a alguma coisa, ação ou qualidade. E com os bebês não é diferente. No entanto, não devemos nos espantar se as primeiras palavras não tiverem o significado comum. Brenda, uma menina estudada por Ronald Scollon (1976) usou o som nenê como uma de suas primeiras palavras. Ela parecia significar sobretudo comida líquida, pois era utilizada para referenciar leite, suco e mamadeira.
É a partir dessa linguagem ainda rudimentar que a criança vai desenvolvendo seu léxico e aprendendo novas palavras. É esperado que nos primeiros seis meses de uso da palavra (aproximadamente 12 e 18 meses), as crianças podem aprender a dizer até 30 palavras.
Em algum ponto entre os 16 e os 24 meses, após o lento período inicial de aprendizagem de palavras, a maioria das crianças começa a acrescentar palavras novas rapidamente, como se tivessem entendido que as coisas têm nomes.
Primeiras frases
Quando enfim uma criança consegue articular duas palavras para formar uma frase, rapidamente passam por uma série de passos e estágios. As primeiras fases do desenvolvimento da linguagem, que Roger Brown chamou de gramática de estágio 1, são caracterizadas por palavras curtas e simples, e há o uso simples de substantivos, verbos e adjetivos, mas inflexões linguísticas (marcadores puramente gramaticais) são predominantemente ausentes. É neste estágio que a criança adquire a fala telegráfica, pois são formadas apenas por palavras essenciais. Atualmente esta teoria está em constante discussão entre os linguistas. Foi descoberto que em determinadas línguas, como o turco, essas inflexões são enfatizadas na fala, e a criança tende a aprender mais cedo.
A explosão da gramática
Assim como a explosão do vocabulário apresenta início lento, uma explosão da gramática acontecerá após vários meses de frases curtas e simples.
A criança começa a dar pistas dessa mudança quando as suas frases começam a ficar mais longas. A maioria das crianças de 12 a 20 meses ainda usa frases de uma e duas palavras. Aos 24 meses as crianças incluem quatro e cinco palavras em suas frases mais longas. Aos 30 meses, o comprimento máximo de duas frases é duplicado novamente.
Aprendizagem posterior da gramática
Embora a maioria das crianças seja razoavelmente fluente em sua primeira língua aos 3 ou 4 anos, ainda há muitos refinamentos a serem feitos.
Logo após as crianças pequenas terem entendido as inflexões e as formas frasais básicas como negação e perguntas, elas começam a criar frases notavelmente complexas, usando conjunções (como “e” e “mas”) para combinar duas ideias ou orações encaixadas.
As crianças acrescentam formas de frase ainda mais complexas e difíceis a seus repertórios durante todo o ensino fundamental, e erros de super-regularização recorrentes são eliminados (entretanto, as crianças têm problemas para entender e usar formas passivas, como “a ração foi comida pelo gato”, e não as usam muito na fala espontânea até os 8 ou 9 anos).
Importante encarar esses aprendizados como refinamentos, pois os passos realmente gigantescos do desenvolvimento da linguagem se dão entre as idades de 1 e aproximadamente 4 anos, quando a criança passa de palavras únicas para perguntas complexas, frases negativas e comandos.
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