Como identificar o autismo? Você já se perguntou de que forma o autismo se manifesta? Sem dúvidas é um assunto que vem sendo abordado de diversas formas, não apenas por profissionais da área da saúde, mas também por pais e familiares que convivem diretamente com filhos ou parentes com o transtorno.
Mas o autismo é um transtorno de alta amplitude diagnóstica, tornando a identificação um desafio até mesmo para profissionais qualificados que estudam diariamente o assunto, devido ao alcance de possibilidades de manifestação.
O objetivo deste artigo é trazer informação às pessoas interessadas em conhecer mais sobre o autismo, conhecido também como Transtorno do Espectro Autista (TEA). Você sabe como identificar o autismo?
O TEA
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento mais facilmente identificado em crianças. Em adultos também é possível identificar o autismo, no entanto estratégias compensatórias e aprendizados obtidos durante a vida podem em alguns momentos mascarar os sintomas, excluindo autistas do diagnóstico durante muito tempo.
De maneira geral o TEA apresenta:
- Déficit persistente na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos. Normalmente é uma criança que não apresenta reciprocidade emocional, déficits nos comportamentos comunicativos não verbais, ou ainda déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos.
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesse ou atividades. Esses padrões podem variar consideravelmente, indo de movimentos motores repetitivos, fala estereotipada ou repetitiva, uso ou interesse em objetos incomuns, interesses fixos e restritos, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento, hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais.
Como o TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento, é característica diagnóstica do transtorno que esses déficits sejam observados desde a primeira infância (aproximadamente 2 anos de idade). Alguns autores relataram indícios comportamentais já nos primeiros 15 meses. Em casos que os sintomas apareceram apenas na adolescência ou ainda na idade adulta, ou seja, não se manifestaram na infância, a hipótese de TEA é automaticamente descartada.
O TEA ainda é identificado por outras características. A primeira delas é o nível de gravidade: Nível 1 “exigindo apoio”, nível 2 “exigindo apoio substancial” e Nível 3 “exigindo apoio muito substancial”.
Outras características devem ser observadas: se há comprometimento intelectual ou comprometimento da linguagem concomitantes. Essas características não apenas tipificam o transtorno, orientam e possibilitam estratégias de intervenção.
Crianças com TEA
O TEA é um transtorno de alta amplitude diagnóstica. Isso quer dizer que os sintomas nem sempre aparecem da mesma forma em diferentes crianças. Mas de maneira geral os critérios diagnósticos descritos acima devem ser observados.
Em criança esses indícios comportamentais são mais claros, pois elas sofrem menos interferência de aprendizados e experiências sociais.
Adultos com TEA
Em alguns casos, principalmente com autistas leves, o diagnóstico não é realizado na infância. A criança que era vista como diferente cresce, casa, tem filhos, tem trabalho e uma independência, de maneira geral consegue se adaptar. Mas depois de vários anos descobre tardiamente o diagnóstico. Como identificar o autismo em adultos é um fenômenos que vem sendo bastante observado por conta do desconhecimento sobre o transtorno na época em que essas pessoas eram crianças, e as primeiras manifestações do TEA surgiam.
Um assunto que se debate muito hoje é a prevalência de TEA entre meninos e meninas e a questão cultural que permeia o diagnóstico.
Menino com TEA e menina com TEA
A estatística que temos no DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 5ª ed.) publicado em 2015, aponta uma prevalência de 4 meninos com TEA para cada menina com o mesmo diagnóstico. Os números oficiais ainda são esses, mas gostaria de propor uma reflexão com relação ao diagnóstico em meninas:
Veja, culturalmente até hoje ainda é mais aceitável que uma menina seja tímida, introvertida e prefira atividades calmas e dentro de casa. Já para os meninos é esperado que sejam expansivos, extrovertidos, que corram, joguem futebol e subam em árvores. Esses estereótipos comportamentais infantis são presentes até hoje (mesmo na era dos smartphones), e comprometem a visão dos pais sobre seus filhos.
Ora, em casos de TEA leve, uma menina introvertida é apenas uma menina introvertida. Agora um menino introvertido destaca aos olhos dos pais e de familiares. Contextualizando ainda para as décadas de 1980 e 1990 onde a tarefa de identificar o autismo era ainda mais difícil devido a falta de informação, muitas autistas adultas de hoje foram crianças não diagnosticadas. Por isso não é difícil observar um possível problema com essa relação 4:1 entre meninos e meninas.
Este estudo indica que a relação de 4:1 é apenas uma média. Em casos de TEA leve, sem comprometimento cognitivo, a relação chega a 6:1, enquanto que casos moderados a graves a relação cai para 1,5:1.
O estudo traz algumas inferências: as meninas teriam maior predisposição a TEA graves, e os meninos teriam um baixo limiar para disfunção cerebral. Mas nada impede de inferir também que meninas com habilidades intelectuais preservadas tendem a se adaptar melhor as condições ambientais que lhe são impostas.
Diagnóstico e precoce e tardio
O diagnóstico de TEA é interdisciplinar, clínico, realizado através de observação direta do comportamento, testes neuropsicológicos e entrevista com pais e cuidadores.
Crianças que são diagnosticadas precocemente são possibilitadas de realizar tratamentos adequados para suas condições, e podem com isso adequar suas vidas às necessidades sociais que serão impostas a ela. De maneira geral, são treinamentos relacionados com habilidades sociais.
Já adultos que são diagnosticados tardiamente com TEA são casos mais complexos. Além de não terem sido submetidos a treinamentos em habilidades sociais necessários para eles, o déficit na comunicação e nas interações sociais tendem a ser altamente ansiogênicos. Esses indivíduos podem continuar socialmente ingênuos e vulneráveis, sendo mais propensos a ansiedade e depressão.
Por isso, ao menor sinal de TEA, busque ajuda com psicólogos e neurologistas para não apenas ter o diagnóstico, mas para promover as intervenções que serão essenciais para o desenvolvimento da criança com TEA.
Buscando mais informações
Em Florianópolis existe a AMA Florianópolis (Associação Amigo dos Autistas) que faz um excelente trabalho não apenas na intervenção, mas também na orientação, no acolhimento e encorajamento de pais e familiares. Dá uma conferida!
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