Com as medidas de restrição e distanciamento social se tornando cada vez mais comuns em nosso dia a dia, podemos as vezes sentir falta deste contato que muitas vezes nos conforta. Ainda que chamadas de vídeo e videoconferências trazendo um certo alívio nessa ausência, o contato social sempre fez parte do cotidiano. E digo isso até mesmo de um ponto de vista evolutivo. Mas com todas essas mudanças, como o seu cérebro reage ao distanciamento social?
Um estudo publicado antes da pandemia do COVID-19, que comparou as respostas do cérebro às situações de interação social com e sem contato físico pode explicar essa questão.
Cérebro vs interação social virtual
De acordo com Lewen’s Haemey Lee Masson e colegas, autores Belgas que publicaram o trabalho no início do ano de 2020, afirmam que “o sentido do toque nos possibilita eficientemente interagir com aspectos sociais e físicos do ambiente”. Ou seja, se você encosta em um objeto, você percebe mais informações a respeito do objeto que você conseguiria apenas com a visão, como textura ou peso. Com pessoas, o processo é semelhante. Quando você tem contato físico com uma pessoa, como um aperto de mão ou um abraço, por exemplo, você potencialmente pode coletar informações que verbalmente não foram expressas.
Os autores afirmam que, com base no que eles chamam de “toque virtual”, é possível que esses toques através de canais visuais de comunicação podem ativar caminhos neurais similares ao ativados durante o toque físico. Quando você vê alguém sendo abraçado através de uma vídeochamada, por exemplo, o seu cérebro desencadeia respostas neurais no cortex somatossensorial, a área que registra o toque no seu próprio corpo. Isso abriu uma possibilidade para o estudo da cognição social, algo que, segundo os autores, pesquisas anteriores não levavam em consideração.
Foram observados os resultados de neuroimagem de 37 participantes, com idade de 19 a 38 anos que observavam clipes mostrando toques entre humanos e entre humano e objeto. Os vídeos entre humanos mostravam abraços, apertos de mão, tapinhas nas costas, enquanto que os vídeos com objetos mostravam os mesmos movimentos, mas com objetos inanimados.
O cérebro e o ambiente virtual
Os achados mostraram que padrões de comunicação entre as regiões do cérebro eram diretamente relacionados com as áreas de interesse definidas pela pesquisa (área de processamento visual, processamento somatossensorial e cognição social), e mostraram um maior padrão de ativação com os vídeos de interação social entre humanos que entre objetos. De acordo com os autores, “durante a observação da ação de tocar de outras pessoas, extensivas mudanças ocorrem na estrutura funcional do cérebro, dependendo se o recebedor é uma pessoa ou um objeto”, o que se torna um resultado muito importante para entender um pouco mais o funcionamento do cérebro no distanciamento social
Além disso, os videos entre pessoas provocaram reações mais intensas nas áreas do cérebro associadas com a teoria da mente, ou como você assume conclusões sobre o estado mental de outras pessoas. Ou seja, as redes neurais do seu cérebro leva as informações baseadas no toque como uma maneira de entender outras pessoas.
Agora, respondendo à pergunta: um abraço social pode nos confortar nesses dias de distanciamento social? A resposta é sim. Bom, pelo menos pode nos proporcionar algum alívio e consolo. Apesar de não ser possível compartilhar uma refeição com a pessoa que você ama, o seu cérebro faz o possível para se adaptar a essa nossa nova realidade.
Comentários